Alguém consegue falar de outra coisa que não seja o Glory? O novo álbum de inéditas de Britney Spears, que sequer foi lançado oficialmente (só lá no México), quebrou a internet na noite do último sábado (20) logo após suas 17 faixas serem disponibilizadas (ainda que ilegalmente) na web. Soando total e completamente diferente de tudo que nós ouvimos dela na última década, o registro chega como um verdadeiro sopro de ar fresco, tanto para os fãs, como para sua discografia, que vinha agonizando com um conteúdo cada vez mais superproduzido.
Sem apresentar algo tão substancial desde o Blackout de 2007, Spears fez de Glory o primeiro de alguns passos que ela ainda vai ter que dar para se reestabelecer como uma artista de prestígio. É, porque, apesar de dinheiro não ser um problema, o mercado tem certos requisitos, estabelecidos tanto por seus componentes, como pelo público que o consome, para que um artista alcance a sua deferência. Britney já teve, perdeu e, ao que tudo indica, está finalmente correndo atrás do tempo perdido.
Os problemas que enfrentou em meados da década passada fizeram com que o mercado midiático amolecesse com ela (até porque, por muito pouco, os caras não a mataram). E, apesar disso ser algo ótimo no âmbito pessoal, é péssimo para o curso profissional, uma vez que Spears não se sentia desafiada a fazer absolutamente nada que estivesse fora da sua zona de conforto, dizendo, dentre outras anedotas, que não tinha nada a provar pra ninguém. Bem, ao que tudo indica, ela, por fim, caiu em si, e viu que tem sim muito a provar... pra ela mesma.
Apesar de não alçá-la a um novo patamar, o Glory a traz de volta para o exato ponto que há tanto fora forçada a desertar. Original Doll. Te lembra algo? No apogeu de sua juventude, Britney acreditou que seria capaz de tomar às rédeas, tanto de sua carreira, como de sua vida pessoal, e o resultado foi o que foi. Hoje, madura, mulher e bem menos impulsiva, trocou a panela de pressão pelo banho-maria, deixando cada um dos ingredientes da garota inconfundível que sempre foi encorparem de maneira homogênea e gloriosa.
Com elementos de estilos até então inexplorados por ela, o Glory já é, de longe, um dos registros mais plurais de toda sua carreira. Pop, rock, hip hop, reggae e até funk permeiam por entre cada uma de suas 17 faixas de uma maneira surpreendentemente linear. Ser cortes abruptos, lombadas ou interrupções. O álbum simplesmente flui. Quanto ao seu conceito, o disco é como um sonho bom, daqueles que chegam quando o nosso corpo, mente e espírito estão no mais alto estágio de trégua, relaxamento e elevação. Sem pressão ou estafa. Slowly but surely, sabe?
Com o claro intuito de se divertir, Spears fez uso de suas habilidades linguísticas, até então desconhecidas, e simplesmente surpreendeu. À primeira ouvida, a impressão que temos é que boa parte das faixas do Glory foram gravadas não em estúdio, mas no sofá de casa, enquanto Spears republicava suas imagens favoritas do Instagram, refletia sobre casos (e ex-casos) da vida e via seus filhos, cada vez maiores e, logo menos, independentes, correndo pelo jardim. Seria essa a glória tanto almejada e finalmente alcançada por ela? Arrisco afirmar que sim. E o melhor disso tudo é que, tão logo ela a alcançou, mesmo que por tabela, nós também a obtivemos.